Nas últimas horas, uma escalada de tensão se formou na Rússia após o chefe do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, acusar o Exército da Rússia de ter bombardeado algumas de suas posições e prometer punir os culpados. Considerado um grupo paramilitar, o Wagner possui fortes ligações com o governo russo, mas agora parece estar do lado oposto do Kremlin.
Fundado em 2014, o grupo é composto por mercenários que eram ex-soldados de elite altamente qualificados. O líder da organização é o oligarca Yevgeny Prigozhin, ligado ao Kremlin. A expensão do Wagner teria acontecido a partir do recrutamento de prisioneiros, civis russos e estrangeiros. Uma das primeiras missões do grupo ocorreu durante a anexação da península ucraniana da Crimeia.
Na ocasião, mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região. A atuação do Wagner já chegou a fazer com que o grupo virasse alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Em fevereiro de 2022, após a invasão da Ucrânia, o governo russo usou mercenários do grupo no conflito com o país vizinho.
Estimativas dão conta de que o Grupo Wagner tenha cerca de 20 mil combatentes. Além de participar dos conflitos na Europa, a organização também já atuou na África para aumentar a segurança para mineradoras russas e há conhecimento sobre a presença de membros do grupo até na Síria.
SOBRE A REVOLTA DO WAGNER
A rebelião armada conduzida pelo líder do Wagner, Yevgeny Prigozhin, já se caracteriza como o maior desafio para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nos seus mais de 23 anos no poder. A revolta – uma guerra dentro de uma guerra – ocorre no pior momento possível para as forças armadas russas, que enfrentam uma contraofensiva das tropas de Kiev na Ucrânia.
Putin já enfrentou uma série de ataques terroristas, incluindo em Moscou, durante a segunda guerra da Chechênia (1999-2009), mas nunca antes foi confrontado com uma insurreição por forças que lutavam sob o seu comando. Para os serviços secretos militares britânicos, a Rússia enfrenta o “desafio mais significativo” dos últimos tempos e a “lealdade” das suas forças de segurança será “fundamental”.
Para confirmar a gravidade da situação, Putin não hesitou em comparar a rebelião do Grupo Wagner com as deserções em massa dos soldados russos nas frentes da Primeira Guerra Mundial, que conduziram à revolução bolchevique de 1917 e à decomposição da Rússia. Na prática, inclusive, Prigozhin adotou uma retórica semelhante à dos agitadores bolcheviques do Exército russo na Primeira Guerra.
GRUPO SEGUE PARA MOSCOU
A questão que se coloca agora é se o presidente russo vai utilizar o seu exército para esmagar o grupo, que tomou o controle da cidade de Rostov, capital da região com o mesmo nome, e se dirige para Moscou. Na tarde deste sábado, as unidades do Grupo Wagner avançavam pela região de Lipetsk, situada a cerca de 340 quilômetros ao sul da capital russa.
Horas antes, o líder da república russa da Chechênia, Ramzan Kadyrov, anunciou o envio de unidades para “a zona de tensão” e garantiu que fará “tudo para preservar a unidade da Rússia e defender o Estado”. O Ministério da Defesa russo, por sua vez, optou por um tom mais cauteloso, pedindo aos integrantes do Wagner para que voltem aos seus quartéis.
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